VOCALIZAÇÃO DE SONS E ULTRASSONS
Música é o silêncio entre as notas.
Claude Debussy
Mantra pode-se traduzir como vocalização. Compõe-se do radical man (pensar) + a partícula tra (instrumento). É significativa tal construção semântica, já que o mantra é muito utilizado para se alcançar a “supressão da instabilidade da consciência” (chitta vritti nirôdhah), denominada meditação, a qual consiste na parada das ondas mentais.
Mantra pode ser qualquer som, sílaba, palavra, frase ou texto, que detenha um poder específico. Porém, é fundamental que pertença a uma língua morta, na qual os significados e as pronúncias não sofram a erosão dos regionalismos, modismos e outras alterações frequentes por causa da evolução das línguas vivas.
Em se tratando de Yôga, somente o idioma sânscrito é aceito. Dele, foram extraídos os mantras do nosso acervo. E não se deve misturá-los com mantras de outras línguas ou de outras tradições, para evitar o tristemente célebre choque de egrégoras.
PARA QUÊ PRATICAR MANTRA
Existem mantras para facilitar a concentração e a meditação, mantras para serenar e para energizar, para adormecer e para despertar, para aumento do fôlego e para educar a dicção, para desenvolver chakras e despertar a kundaliní, para melhorar a saúde e até para matar em casos extremos de autopreservação do yôgi, quando atacado. Leia a esse respeito no nosso livro Quando é Preciso Ser Forte o caso do velho sábio que, para defender-se, teria matado um facínora na Índia, emitindo apenas um mantra.
Na prática básica de ády ashtánga sádhana, o mantra é utilizado para aplicar a vibração de ultrassons no desesclerosamento de nádís, que são os meridianos por onde o prána circula em nosso corpo físico energético. Na maior parte das pessoas, tais nádís estão obstruídas por maus costumes alimentares que as entopem da mesma forma que as artérias, e também por maus costumes emocionais, dando vazão a uma enorme variedade de sentimentos inferiores, pesados e viscosos.
Para desenvolver chakras, os mantras atuam por ressonância. É o mesmo fenômeno que se observa quando afinamos dois instrumentos de corda e depois, tocando um deles, o outro, deixado a uma certa distância, toca sozinho, por simpatia. Da mesma forma, se conseguirmos reproduzir os ultrassons que têm a ver com a afinação dos chakras, eles reagem a esse estímulo.
Segundo a Física, a ressonância tem tanta força que uma tropa não deve atravessar pontes marchando. Se o fizer, a ponte pode ruir, como já aconteceu várias vezes. Todo militar sabe disso, mas poucos sabem que tal procedimento está intimamente ligado à arte dos mantras.
Como não conseguimos escutar os ultrassons, os Mestres do passado criaram determinados sons que têm a propriedade de reproduzi-los simultaneamente, tal como se os ultrassons acompanhassem o vácuo dos sons audíveis. Assim, pessoas comuns passam a ter a capacidade de emitir vibrações que atuem nas áreas mais recônditas da nossa fisiologia pránica. Não adianta ler os mantras escritos, nem mesmo em pauta musical. É preciso escutá-los com atenção e buscar reproduzi-los exatamente da mesma forma. É necessário que um Mestre experiente ouça o discípulo e o corrija sucessivas vezes, até que os mantras fiquem precisamente corretos. Por isso, na Índia, alguns Mestres de mantra ficam furiosos quando os ocidentais lhes perguntam com que nota musical devem fazer o mantra ÔM.
– Mantra não é música! – Vociferam eles, cheios de razão, já que o ÔM e a maioria dos mantras não têm nada a ver com música.
Assim sendo, saber que LAM atua no múládhára chakra, que VAM atua no swádhisthána, RAM no manipúra, YAM no anáhata, HAM no vishuddha e ÔM no ájñá e no sahasrára, não resolve absolutamente nada, se o praticante não tiver um Mestre que, além de entoar cada um, ainda esteja disponível para corrigir sua vocalização
Texto extraído do livro Tratado de Yôga, DeRose. Editora Egrégora.