GESTO REFLEXOLÓGICO FEITO COM AS MÃOS
Mudrá é a linguagem gestual. O vocábulo deve ser pronunciado sempre com a tônico. Significa literalmente gesto, selo ou senha. Provém da raiz mud, alegrar-se, gostar. Em alguns livros aparece traduzido como símbolo, mas isso não está correto. Símbolo é a tradução da palavra yantra. Em Yôga, mudrá designa os gestos feitos com as mãos. São definidos como gestos reflexológicos por desencadear uma sucessão de estados de consciência e mesmo de estados fisiológicos associados aos primeiros.
Uma modalidade moderna, o Hatha, surgido no século XI d.C., admite gestos feitos com o corpo (yôga mudrá, mahá mudrá, vajrôli mudrá, viparítakarani mudrá), mas essa interpretação parece não concordar com as correntes mais antigas. Aliás, se perguntarmos a um instrutor de desse ramo qual é a diferença entre um ásana (técnica corporal) e um mudrá feito com o corpo, a explicação não vai convencer. A justificativa menos confusa, é a de que os mudrás compreendem mentalização! Ora, como você estudará no subtítulo Regras Gerais, no capítulo ásana, esta técnica só é considerada completa e perfeita se incluir mentalização. E mais tarde, outros elementos, como bandhas e manasika mantra.
Mudrá tem sua origem na ancestral tradição tântrica (ou seja, matriarcal). Como afirma o célebre médico e monge hindu Sivánanda, a presença de mudrá, pújá e mantra, caracteriza herança dos Tantras. Devemos recordar que o SwáSthya tem sua prática básica em oito partes (ashtánga sádhana), iniciando-se exatamente com aqueles três angas: mudrá, pújá e mantra. Depois, executamos pránáyáma, kriyá, ásana, yôganidrá e samyama. Por isso, o nome completo desta linhagem é Dakshinacharatántrika-Niríshwarasámkhya Yôga.
COMO ATUAM OS MUDRÁS
Os mudrás atuam por associação neurológica e por condicionamento reflexológico. Não podemos negar um componente cultural, que reforça ou atenua o efeito dos mudrás. Sua influência na esfera hormonal é inegável. Quem ainda não sentiu lhe subir a adrenalina por causa de um mudrá provocativo, ou os hormônios sexuais por consequência de um gesto erógeno?
Um fato curioso e que só pode ser atribuído ao inconsciente coletivo é a “coincidência” de que, em épocas diferentes, hemisférios diferentes, etnias e culturas diferentes, os mesmos gestos sejam observados, com o mesmo significado. Há diversos estudos publicados nas áreas de antropologia e de psicologia demonstrando que, seja qual for o povo, determinados gestos possuem um significado comum, desde uma cultura primitiva, até uma outra bem desenvolvida.
Mas, afinal, o que há de extraordinário nisso? Todos os povos não expressam sua satisfação e cordialidade através do sorriso e sua revolta mediante do punho cerrado? De quantos outros exemplos lembrou-se o leitor neste justo momento?
Portanto, mudrá é a parte do Yôga que estuda e aplica os efeitos dos gestos sobre o psiquismo e, por consequência, sobre o corpo físico.
A IMPORTÂNCIA DOS MUDRÁS
O ser humano só se distanciou do resto dos animais, dominou a Natureza, adquiriu tecnologia, criou a arte, constituiu a civilização porque tinha mãos. E, nelas, um polegar oponente. Não foi graças ao cérebro. Bem pelo contrário: o cérebro só se desenvolveu depois que as mãos passaram a segurar e até a fabricar instrumentos, meio que instintivamente, como inclusive o fazem alguns símios e várias outras espécies de animais. A partir de então, os estímulos neurológicos, cada vez mais complexos, passaram a exigir um maior desenvolvimento cerebral. Implante-se um cérebro humano em um cavalo e ele não poderá construir coisa alguma com seus cascos.
As mãos e os dedos são, além de ferramentas da edificação cultural, meios eficazes de comunicação entre os indivíduos. Um homem pú- blico pode estar proferindo um discurso muito convincente no aspecto da verbalização, mas a gesticulação poderá traí-lo e o público não o aceitará se seus mudrás não forem coerentes. Quantos políticos você conhece que perderam eleições por causa de uma gesticulação denunciadora das suas verdadeiras intenções?
Além do mais, o corpo humano, como qualquer porção de matéria orgânica, possui um magnetismo e polaridades. Energia flui em quantidades e qualidades distintas por todo o organismo. Logo, não é de se admirar que em suas extremidades – as mãos –, modificando-se a disposição, a postura, a orientação e a combinação dos dedos, diferentes reações eletromagnéticas se manifestem. Desde que as fotos kirlian tornaram-se populares, é impossível negar que das mãos e dedos partam fachos de energia fotografável. Realize você mesmo essa experiência: faça uma kirliangrafia antes e outra depois de praticar respiratórios, ásanas, mantras, meditação etc. As variações são, no mínimo, interessantes.
Texto extraído do livro Tratado de Yôga, DeRose. Editora Egrégora.